terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Barbárie


Eu fiquei horrorizado com a retirada bárbara das famílias  em São José dos Campos, SP. Vale nossa indignação e repúdio. Grato a Maria Inês Nassif.
DEBATE ABERTO

O horror e a opção preferencial contra os pobres

Nada mais precisa ser dito para descrever a operação de despejo de Pinheirinho, em São José dos Campos, e a ação policial contra os usuários de crack no centro da capital, na chamada Cracolândia. Mas existem muitas explicações para a truculência, a desumanidade, a destituição do direito de cidadania aos pobres pelo poder público paulista.

É o horror. Nada mais precisa ser dito para descrever a operação de despejo de Pinheirinho, em São José dos Campos, e a ação policial contra os usuários de crack no centro da capital, na chamada Cracolândia. Mas existem muitas explicações para a truculência, a desumanidade, a destituição do direito de cidadania aos pobres pelo poder público paulista.


A primeira delas é tão clara que até enrubesce. Nos dois casos, trata-se de espantar o rebotalho urbano de terrenos cobiçados pela especulação imobiliária. O Projeto Nova Luz do prefeito Kassab, que vem a ser a privatização do centro para grandes incorporadoras, vai ser construído sob os escombros da Cracolândia, sem que nenhuma política social tenha sido feita para minorar a miséria ou dar uma opção séria para crianças, adolescentes e adultos que se consomem na droga. 



O terreno desocupado com requintes de crueldade em São José dos Campos, de propriedade da massa falida do ex-mega-investidor Naji Nahas, que já era de fato um bairro, vai ser destinado a um grande investimento, certamente. O presente de Natal atrasado para essas populações pobres libera esses territórios antes que terminem os mandatos dos atuais prefeitos, e o mais longe possível do calendário eleitoral. Rapidamente, a prefeitura de São Paulo está derrubando imóveis; a prefeitura de São José não deve demorar para limpar o terrreno de Pinheirinho das casas - inclusive de alvernaria - das quais os moradores foram expulsos. 



Até outubro, no mínimo devem ter feito uma limpeza na paisagem, o que atenua nas urnas, pelo menos para a classe média, a ação da polícia. A higienização justifica a truculência policial. A "Cidade Limpa" de Kassab, que começou com a proibição de layouts na cidade, termina com a proibição de exposição da pobreza e da miséria humana.



A segunda é de ordem ideológica. Desde a morte de Mário Covas, que ainda conseguia erguer um muro de contenção para o PSDB paulista não guinar completamente à direita, não existe dentro do partido nenhuma resistência ao conservadorismo. Quando Geraldo Alckmin reassumiu o governo do Estado, em janeiro de 2011, muitas análises foram feitas sobre se ele, por força da briga por espaço político com José Serra dentro do partido, iria trazer o seu governo mais para o centro. A referência tomada foi o comando da Segurança Pública, já que em seu mandato anterior a truculência do então secretário, Saulo de Castro Abreu Filho, virou até denúncia contra o governo de São Paulo junto à Comissão de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos. 



O fato de ter mantido Castro fora da Segurança e se aproximado do governo federal, incorporando alguns programas sociais federais, e uma relação nada íntima com o prefeito da capital, deram a impressão, no primeiro ano de governo, que Alckmin havia sido empurrado para o centro. O que não deixava de ser uma ironia: um político que nunca escondeu seu conservadorismo foi deslocado dessa posição por um adversário interno no partido, José Serra, que, vindo da esquerda, tornou-se a expressão máxima do conservadorismo nacional. 



Isso não deixa de ser uma lição para a história. Superado o embate interno pela derrota incondicional de José Serra, que desde a sua derrota vinha perdendo terreno no partido e foi relegado à geladeira, depois da publicação de "Privataria Tucana", do jornalista Amaury Ribeiro Júnior, Alckmin volta ao leito. O governador é conservador; o PSDB tornou-se orgânicamente conservador, depois de oito anos de governo Fernando Henrique Cardoso (FHC) e oito anos de posição neoudenista. A polícia é truculenta - e organicamente truculenta, já que traz o modelo militar da ditadura e foi mais do que estimulada nos últimos governos a manter a lei, a ordem e esconder a miséria debaixo do tapete. 



O nome de quem faz a gestão da Segurança Pública não interessa: está mais do que claro que passou pelo governador a ordem das invasões na Cracolândia e em Pinheirinho.



Outra análise que deve ser feita é a da banalização da desumanidade. Conforme a sociedade brasileira foi se polarizando politicamente entre PSDB e PT, a questão dos direitos humanos passou a ser tratada como um assunto partidário. O conservadorismo despiu-se de qualquer prurido de defender a ação policial truculenta, de tomar como justiça um Judiciário que, nos recantos do país, tem reiterado um literal apoio à propriedade privada, um total desprezo ao uso social da propriedade e legitimado a ação da polícia contra populações pobres (com nobres exceções, esclareça-se). 



Para os porta-vozes desses setores, a polícia, armada, "reage" com inofensivas balas de borracha à agressão dos moradores que jogam pedras perigosíssimas contra escudos enormes da tropa de choque. No caso de Pinheirinho, a repórter Lúcia Rodrigues, que estava na ocupação, na sexta-feira, foi ela própria alvo de duas balas letais, vindas da pistola de um policial municipal. Ela não foi atingida, mas duvida, pela violência que presenciou, das informações de que tenha saído apenas uma pessoa gravemente ferida daquele cenário de guerra.

(*) Colunista política, editora da Carta Maior em São Paulo.


Meu irmão Léo "Corba" Freitas categorizou com seu humor e sagacidade peculiares o comportamento dos lacaios burgueses do estado de São Paulo. Vale a pena conferir no Glossário da Burguesia Paulista  em  buldozer.blogspot.com

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

O retorno de Jedi

Após um longo período de ostracismo apresento minhas desculpas aos meus cinco leitores (estatística pessoal...) por esta longa ausência, desejando que em 2012 a todos tenham seus melhores desejos realizados. Justifico-a através da mudança de endereço que passei recentemente, a realização de uma aspiração pessoal de longa data, oxigenação necessária para qualquer ser vivo como eu. Mudanças, viagens, novas paixões, significa beber a vida aos goles e não à conta-gotas como estamos habituados a fazer, e nos dá alento para seguir na batalha cotidiana por nosso ideais. Pois, como diz a canção, "Em tempos assim, Você aprende a viver de novo."

Vale a nota sobre a leitura de A Privataria Tucana que também auxiliou nesta oxigenada, pois o livro é esclarecedor sobre o modo operante da burguesia lacaia através da narrativa empolgante do autor, repórter investigativo que consegue relatar os fatos envolvendo o interlocutor em suas descobertas jornalísticas com um enredo que diz respeito a nossa própria história. Leitura agradável, provocadora e honesta. Pretendo dar sequência à safra leituras com o curioso "Guia politicamente incorreto da história do do Brasil", livro que comprei em uma promoção de fim de ano e ainda encontra-se encaixotado em algum canto da casa...

Espero que neste ano possa elevar o debate em torno de educação física no Distrito Federal, e que este seja um canal para diálogos e construções. Estarei compartilhando minhas aventuras e a apreensão da realidade através de minhas possibilidades neste espaço. Para dar boas vindas aos trabalhos prementes, compartilho algo que há bastante me provoca e norteia enquanto professor que busca humanizar seu trabalho. E ainda continuarei.

Stanlei* 8ª A negro 
Trabalho realizado com turmas de oitava série, resenha do filme Quanto vale ou é por quilo? Brasil, 2005, drama, direção de Sérgio Bianchi

A escola será mesmo um lugar de oportunidades para todos? 

Para alguns não foi. Pois eram tratados com indiferença, como se não existissem. 

Ainda me lembro de minha segunda série, na aula de português, todos se sentavam em dupla, e eu no entanto estava sozinho, eu não entendia, mas acho que era pelas minhas condições, um chinelo remendado, as perna ressecadas, a camisa rasgada, enquanto os outros: sapatos novos, uniformizados, com perfumes cheirosos, e eu chorei, quando ouvi um murmuro na mesa de trás (olha o neguim ta chorando), aquilo me cortou por dentro. Mas com o tempo eu aprendi que não vale a pena me entristecer por causa disso, e comecei a superar.

Quando na quinta série o ato de desigualdade, pois “aonde tem o mais alto tem o mais baixo que o ajudou a crescer”, e eu cheguei na sala triste pois meus pais haviam discutido na noite passada e eu sentei e fiquei calado, quando levantei percebi que colaram um chiclete na minha cadeira. Todos riram de mim, e me humilharam por semanas, foi aí que eu percebi que na escola é como na escravidão, sua liberdade depende de roupas, sapatos, amigos, sua popularidade, mas quando você é o escravo sofre bem mais com o açoite de palavras, olhares de discriminação que não tiram sangue como chicotadas mas retiram “lágrimas sangrentas que correm da alma”. 

Quem dera fosse diferente. Hoje tenho orgulho pois meus descendentes aboliram a escravidão, mas estou triste pois ela parece ter voltado! 
* nome fictício.


A inspiração para o nome saiu da música "Morte e vida Stanley" de Lirinha e Cordel do Fogo Encantado, que pode ser conferido no link abaixo.