sábado, 28 de julho de 2012

Notas Olímpicas (versão pessoal)


O melhor deste Jogos Olímpicos é ver os jornalistas da Globo desconcertados e com cara de banana ao anunciar timidamente os resultados da delegação brasileira. Apesar de a Rede Record, emissora detentora dos direitos de transmissão dos Jogos para o Brasil ter lucrado horrores ao negociar a retransmissão pelo canal Sportv, canal esportivo pago pertencente às Organizações Globo, conjeturo em meus pensamentos como o povão recebe um produto de consumo (o esporte televisivo) sem a chancela da marca Globo; sem seu editorial jornalístico cretino e abobado; sem sua condução jornalística direcionada para a alienação; e, principalmente, livre dos comentários anti-pedagógicos e imbecis do Galvão Bueno. 

Não estou afirmando que a emissora Record é o antídoto disso tudo, é idônea, honesta, pedagógica, perfeita, etc, tendo em vista que reconheço que a linha de condução jornalística brasileira foi fundada pela Globo e no geral, com algumas ressalvas, segue o mesmo padrão. Apenas brinco imaginando meus avós, caso estivessem vivos, em uma roda de conversa diante da televisão:

- Mas e o Galvão Bueno, hein?
- Parece que está de férias. A Fátima Bernardes que era boa...
-Mas essa daí, a... como é o nome dela?.... Ana Paula Padrão!... Não é a mesma coisa?
-Ah, não é não...! Esse nem é o marido dela...! Melhor quando apresentava o "Globo Repórter".
-Gol do Brasil! Gol do Neymar!
-Mas ele narra igualzinho o Galvão, não?
-Onde é que ele está mesmo? De férias?...
E por aí vai...

Toda uma geração que construiu sua rotina de vida, seu modus vivendis atrelado à rotina da TV Globo - tomar café com o Bom Dia Brasil, almoçar com o Globo Esporte, jantar com o DFTV, sentar com a família e a novela das oito, fazer amor e dormir com o Jornal da Globo - caso esteja interessada nas Olimpíadas, deve estar achando muito esquisito. Isso foi definitivamente afrontado na cultura e na rotina brasileira. Sinal dos tempos. Minha esperança é que em pouco tempo teremos diminuída a quantidade de jovens educados pelo Galvão Bueno. Imagino que a conseqüência disso nas escolas serão jovens praticando a educação física escolar de forma mais liberta, mais diversificada (principalmente em relação ao futebol) e mais honestos, pois o Galvão os ensinou durante gerações a serem ufanistas, malandros, revanchistas, perversos com seus adversários e a odiar argentinos. Por que? Ainda não descobri.

Outra conseqüência possível serão futuros velhos com outros modus vivendis desvinculados ao sugerido pela TV Globo. Ou qualquer TV. Eu, mesmo com visão que tenho sobre Olimpíadas e seus "senhores dos anéis" (confira o link), ainda me dou o direito de consumir e até emocionar com o esforço dos meus compatriotas proletários do esporte que suam sangue para carregar essa bandeira tão maculada por outros compatriotas menos dignos. Nem é preciso citar nomes, certamente meia dúzia já vieram à cabeça do leitor... Provoco: não vale pensar em político!

Sobre o Engenhão


Sou favorável a que seu nome mude para Estádio do Trabalhador, ou Estádio do Povo, pois todos sabemos, ou ainda procuramos saber, do arroubo de verba pública e superfaturamento ocorrido para sua construção, com seu posterior arrendamento, ou seja, geração de renda para a iniciativa privada. Em nosso país estamos acostumados a nos calar diante do batismo de obras públicas com nomes de personagens nefastos de nossa história, sem que o interesse a história popular sejam ressaltadas. Alguém com o mínimo esclarecimento tinha convicção da idoneidade do sr. João Havelange, 24 anos à frente da FIFA e sogro e padrinho político de Ricardo Teixeira? Será que temos o direito de reclamar apenas agora que ficou comprovado que ele é ladrão? Está na hora de homenagearmos nossa própria história. Dizem que, de fato, o estádio e outras obras do Pan 2007 (assim como das Olimpíadas 2016) foram (ou serão) construídos com o dinheiro do FGTS, ou seja, do trabalhador. Que se apure a verdade.

Reconheço o personagem João Saldanha como relevante na história do futebol brasileiro, mas me posiciono desfavorável a esta homenagem para o nome deste estádio. Este é um monumento público, porém a utilização deste nome parece-me fomentada por grupos que desejam homenagear não um nome do esporte nacional, mas sim um nome que diz respeito à história de seu arrendatário, o Botafogo. Mais uma vez a população e o trabalhador brasileiro sendo desprestigiados.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Cultura corporal protelada

A manifestação reproduzida a seguir é do irmão e companheiro professor Jordânio Lúcio Vital, o qual denuncia a protelação de uma manifestação corporal histórica e culturalmente estabelecida, o atletismo, dos Jogos Escolares Regionais da Coordenação Regional de Ensino de Taguatinga. Argumenta o companheiro que, em reunião promovida pela Coordenação Regional, alegou-se contenção de despesas, falta de profissionais para conceder o staff necessário e, pasmem, a baixa qualificação de alunos de escolas públicas em edições anteriores.

É de contundente estranhamento para mim que o discurso oficial do estado em relação aos Jogos Escolares, que representam a culminância de um processo de educação corporal, socialização e democratização do esporte escolar, desemboque na lógica neoliberal e reacionária de gestão e fomento do esporte escolar, alinhavado à performance e viabilidade econômica. Os Jogos representam, para quase totalidade dos estudantes de escolas públicas, a única possibilidade de participação em um evento deste porte. Ainda mais em Taguatinga, onde o atletismo representa uma manifestação popular de atividades corporais, sempre culminando no surgimento de atletas de renome local e nacional. Acredito que os eventos esportivos escolares, entre eles festivais, gincanas, torneios, jogos, constituem-se oportunidade para a educação física escolar de firmar-se como elemento primário de educação para a emancipação, formação crítica, cidadania e democracia dos atores de uma instituição de ensino.

Qualquer evento que envolva manifestações da cultura corporal em uma escola é rico pois requer ações que concernem a sua concepção, organização, execução e avaliação. É comum que tais ações recaiam sobre os atores legitimados socialmente para responderem pelo assunto: os professores e coordenadores de EF (na escola), as Coordenações Regionais de Ensino (nas cidades) e a Coordenação de Educação Física (no DF). Compreendo, entretanto, que na perspectiva de educação e formação situadas acima, todos os agentes e personagens partícipes do evento podem e devem compor todo o processo, respeitando-se o pressuposto democrático de representatividade e elegibilidade; mesmo que os estudantes e a comunidade não estejam presentes nas reuniões em instâncias mais burocráticas (Regional de ensino, diretoria de EF), que seus interesses e contribuições estejam representados por aqueles que os representam nessas instâncias, e assim sucessivamente. Todavia, acredito ser fundamental suas participações nas instâncias locais (escolas), em todas as etapas e funções na organização desses eventos. 

Desta maneira, o evento que se denomina Jogos Escolares de uma cidade qualquer deva andar paralelo com aquilo que se preza como ensino de educação física, atualmente no DF inserida no turno escolar pela compreensão histórica de que a educação física é matéria fundamental na formação integral do educando, e por isso tem o direito e o dever de participar da coordenação pedagógica da escola, dos conselhos de classe, das formações continuadas e das avaliações pedagógicas em toda rede de ensino. Pensar a prática da educação física escolar de forma sectária, alienada do cotidiano escolar é anacrônico ao caminhar da educação que enxerga o ser humano liberto, emancipado e consciente de seu papel social. É fragmentá-lo.

O debate permanente em formações, fóruns, encontros, seminários, é fundamental para que se desenvolva esta consciência em todos os agentes partícipes deste processo de desenvolvimento da consciência coletiva sobre o esporte na escola, seu ensino e reprodução no ambiente escolar e a atuação dos entes deste e neste processo. Isso é o princípio democrático alijado da concepção burguesa, para o qual a democracia representa um instrumento de sustentação de seus interesses através da força (a maioria pelo voto) e coação (campanha para obtenção do voto). Isso é mais usual do que imaginamos. Quando nos damos conta, estamos votando até mesmo para definir qual marca de café beberemos em nossas coordenações... Ou ainda coisas mais sérias como, por exemplo, se nossa escola deve aderir ou não à greve já deflagrada.

A verticalização de decisões ou projeções a qual estamos historicamente habituados, muitos até mesmo acomodados, é perigosa. A culminância disso é a reprodução de valores e preceitos que negamos no âmbito teórico, intelectual, acadêmico, mas evidenciamos em ações cotidianas irrefletidas e automáticas. Negar uma manifestação corporal em um evento através de argumentos econômicos é uma enorme contradição àquilo que se preza, ou acredita-se, em relação ao currículo de educação física escolar da SEDF. Em tempo, há muito que o modelo dos JEDF acaba priorizando aquelas escolas que são citius, fortius e altius (conforme coloca nosso companheiro) do ponto de vista da estrutura econômica, do rendimento acadêmico e, no meu entendimento, da organização pedagógica para a educação física em suas instituições. 

O projeto político-pedagógico que priorize a performance é legítimo, digo, posto vivermos em uma sociedade plural, mas não compatível in verbis com a realidade do ensino público. A educação pública como um todo, especialmente a educação física que é recheada de representações sociais favoráveis à manutenção da ordem burguesa, deve atender aos anseios da classe trabalhadora, na vertente da superação dessas contradições. A elaboração colegiada e democrática de eventos escolares ligados à cultura corporal é instrumento sólido e eficaz para tal caminho. Livre, o quanto possível, de verticalizações e arbitrariedades de concepções irrefletidas ou mal concebidas.

Abaixo, o manifesto.



MANIFESTO
Prezados companheiros da GREBT e EDUCAÇÃO FÍSICA em geral,
Diante das informações obtidas, no encontro do dia 25/06/12 no Seminário de Educação Física, a respeito dos Jogos Escolares da CRE–TAGUATINGA, venho manifestar minha indignação pela preterição do Atletismo na edição deste ano dos referidos jogos.
A discordância não tem apoio maior em minhas próprias aspirações ou da escola em que leciono, muito menos no interesse de alunos em particular. Manifesto-me em prol do esporte como um todo que tem o Atletismo como pedra fundamental. Ele é a manifestação das habilidades naturais e primevas do ser humano, quais sejam, correr, saltar e arremessar, das quais derivam tantas outras modalidades. É o iniciador das comparações entre os seres que deu origem às competições. É inconcebível, portanto, que a modalidade seja desconsiderada em qualquer edição de jogos escolares.
Justo no dia da palestra do professor André Mariano, eu recebo a justificativa inconvincente de que a organização dos jogos prescindiu da modalidade atletismo por três motivos: contenção de gastos, falta de professor de CID na modalidade e por histórico de participação das escolas públicas pouco abrangente nas últimas edições. O que diria o palestrante convidado pela GREBT, que tanto falou da iniciativa na área da Educação Física, a respeito da exclusão do Atletismo?
Em primeiro lugar, é certo que as restrições orçamentárias são pontuais para este setor da educação, no entanto em nossa formação todos aprendemos a lidar com esse infortúnio e a criar alternativas para driblá-la. Segundo, a falta de professor específico não pode justificar a exclusão, o Atletismo é matéria obrigatória e todos nós graduados na disciplina temos a noção de organização de jogos de maneira geral, além do mais nas edições anteriores os professores de CID de outras modalidades também ajudaram na arbitragem e organização da modalidade. Por último, o fato histórico de pouca participação das escolas públicas nos jogos de atletismo, não pode justificar de maneira alguma a contestada exclusão do mais democrático dos esportes.
Para ser breve, concluo o manifesto posicionando-me detalhadamente a respeito do último ponto tratado no parágrafo acima, deixando alternativas para solucionar o viés.
Com efeito, pelo que pude observar nas edições anteriores dos jogos desta regional (agora coordenação), na modalidade atletismo, disputadas na UCB-Taguatinga, a participação de escolas públicas é resumida. No entanto, fechar as portas não me parece a maneira mais coerente de lidar com a situação. Pelo fato de lecionar em uma escola de zona rural, distante 30 Km do centro de Taguatinga, percebi no atletismo a melhor forma de trazer alunos a participarem de alguma modalidade de competição. Por ser a competição realizada em um único dia para cada categoria e resumida a 3 dias ao todo, as dificuldades de locomoção foram facilmente superadas e, há 3 anos a Escola Boa Esperança trás alunos para simplesmente ‘correr, saltar e arremessar’. O exemplo e as facilidades de participação nesta modalidade devem ser expostos tanto para os professores da área quanto para seus diretores. A divulgação do Atletismo nos Jogos Escolares de Taguatinga precisa ser feita junto com as facilidades e conveniências que lhe são pertinentes. Iniciativa e propaganda!!!
Por acreditar naquilo que escrevo e por acreditar na capacidade de superação de obstáculos que nós os professores de Educação Física temos, espero que o manifesto seja eficaz ainda este ano de 2012 (ano olímpico) e que nós possamos celebrar mais uma vez o histórico lema citius, fortius e altius com nossos alunos.
 JORDÂNIO LÚCIO DE CASTRO VITAL
Professor - Educação Física
Lotado na Escola Classe Boa Esperança – CRET-TAGUATINGA