terça-feira, 30 de setembro de 2014

Inauguração Blog do AVANTE

É com grande satisfação que podemos, a partir de agora, acompanhar o desenvolvimento das atividades do Grupo AVANTE - Grupo de Pesquisa e Formação Sociocrítica em  Educação Física, Esporte e Lazer da FEF/UnB através de seu Blog. A iniciativa, discutida internamente no grupo há algum tempo, ganha materialidade pelas mãos dos companheiros(as) Wagner Matias, Carolina Moniz e Raíssa, a quem parabenizo pelo excelente layout do Blog e objetividade das informações.

O Grupo, coordenado pelos professores Dr. Marcelo Húngaro e Dr. Fernando Mascarenhas é um solo extremamente fértil não somente pelas pesquisas que fomenta através da produção de seus docentes, discentes e demais pesquisadores, mas também pela práxis social que fundamenta através da formação humana indelével que propicia através de suas outras atividades: mesas, debates, palestras, conversas, exposições, estudos, seminários e interlocuções com outros grupos de pesquisas marxistas. Ampliar o acesso a todo esse material é também uma resposta a demanda cada vez mais premente de um debate qualificado em tempos de humanidade desumanizada, conforme ponderou Bertolt Brecht. Vale muito a pena acompanhar seu calendário, assim como as publicações disponibilizadas em seu bojo, pois elas não apenas permeiam o trabalho docente em Educação Física, mas auxiliam a compreender as políticas de Esporte e Lazer no Distrito Federal e no Brasil. 

Parabéns aos camaradas pela iniciativa!

Confira em http://www.avanteunb.blogspot.com.br/

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Lágrimas de sonhos revolucionários

Conforme disse, sonhos não são usurpáveis; não os sonhos revolucionários, libertos das amarras da escravidão consumista, mas sonhos infantis, pueris, autênticos. O intercâmbio cultural deste momento é enriquecedor, o prazer de cantar em coro uma nação é arrebatador. A memória dessa experiência coletiva é imperecível e poder dividir isso com quem você ama é recompensador. Essa está sendo minha experiência pessoal neste Megaevento. Minha paixão não foi usurpada pelos sentimentos deflagrados pela minha experiência racional (nem da deflagrada pelos sentimentos advindos do meu "fígado").

Pra temperar meu entorpecido sentimento de satisfação, é muito bacana ver os reacionários e pessimistas de plantão engolirem toda a saliva da raiva que possuem e reconhecerem que o evento é um sucesso. E mais, que o povão que não frequenta aeroportos, que não tem celular 4G, não usufrui da rede hoteleira ou sequer passa perto dos estádios está com a auto-estima nas alturas. É lindo ver o público manaura, cuiabano, potiguar, brasiliense, porto-alegrense cantar dentro dos estádios: EU SOU BRASILEIRO, COM MUITO ORGULHO, COM MUITO AMOR! Isso é uma resposta popular aos que diziam que o evento seria um fiasco. Não estou lembrado de um evento desse porte nas capitais amazonense, mato-grossensse ou potiguar... Isso sim, é autoestima! Todos nós sabemos o que aconteceu para o evento poder se realizar, mas, como disse antes, nossa cultura, nossos sentimentos, nossos sonhos e a luta que vem em decorrências destes são nossos, possuem todas as nossas impressões digitais. Não venham nos roubá-las. Um ensaio de "legado" da copa: estamos mais fortes, mais sabidos, mais ativos e mais participativos. Utilizemos este legado! Sigamos em frente na transformação política de cada um de nós.

Replico o esperançoso texto de Luís Nassif que demonstra essa derrota dos reacionários da mídia. Que mantenhamos nossos olhos abertos para o que vem a seguir, pois eles, como sempre, já estão tentando virar o jogo para o seu lado (do tipo 'eu sabia que seria um sucesso'):


Já se tem o resultado parcial da Copa: reconhecimento geral - da imprensa nacional e internacional - que é uma Copa bem organizada, com estádios de futebol excepcionais, aeroportos eficientes, sistemas de segurança adequados, logística bem estruturada e a inigualável hospitalidade do povo brasileiro.
Vários jornais (internacionais) já a reconhecem como a maior Copa da história.
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Agora, voltem algumas semanas atrás, pouco antes do início da Copa.
A imagem disseminada pela imprensa nacional - era a de um fracasso retumbante. Por uma mera questão política, lançou-se ao mundo a pior imagem possível do Brasil. O maior evento da história do país, aquele que colocou os olhos do mundo sobre o Brasil, que atraiu para cá o turismo do mundo,  foi manchado por uma propaganda negativa absurda. Em vez das belezas do país, da promoção turística, do engrandecimento da alma brasileira, da capacidade de organização do país, os grupos de mídia nacionais espalharam a imagem de um país dominado pelo crime e pela corrupção, sem capacidade de engenharia para construir estádios - justo o país que construiu duas das maiores hidrelétricas do planeta -, com epidemias grassando por todos os poros.
Um dos jornais chegou a afirmar que haveria atentados na Copa, fruto de uma fantasiosa parceria entre os black blocks e o PCC. Outro informou sobre supostas epidemias de dengue em locais de jogo da Copa.
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O episódio é exemplar para se mostrar a perda de rumo do jornalismo nacional, a incapacidade de separar a disputa política da noção de interesse nacional. E a falta de consideração para com seu principal produto: a notícia.
Primeiro, cria-se o clima do fracasso.
Criado o consenso, abre-se espaço para toda sorte de oportunismos. É o ex-jogador dizendo-se envergonhado da Copa, é a ex-apresentadora de TV dizendo que viajará na Copa para não passar vergonha.
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Tome-se o caso da suposta corrupção da Copa. O que define a maior ou menor corrupção é a capacidade de organização dos órgãos de controle. O insuspeito Ministério Público Federal (MPF) montou um Grupo de Trabalho para fiscalizar cada ato da Copa, juntamente com o Tribunal de Contas da União e a Controladoria Geral da União. O GT do MPF tornou-se um case, por ter permitido economia de quase meio bilhão de reais.
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Antes da hora, é fácil afirmar que um estádio não vai ficar pronto, que um aeroporto não dará conta do movimento, que epidemias de dengue (no inverno) atingirão a todos, que os turistas serão assaltados e mortos. Fácil porque são apostas, que não têm como ser conferidas antecipadamente.
Quando o senhor fato se apresenta, todos esses factóides viram pó.
A boa organização da Copa não é uma vitória individual do governo ou da presidente Dilma Rousseff. É de milhares de pessoas, técnicos federais, estaduais e municipais, consultores, membros dos diversos poderes, especialistas em segurança, trânsito, empresas de engenharia, companhias de turismo, hotelaria.
E tudo isso foi jogado no lixo por grupos de mídia, justamente os maiores beneficiários. Eram eles o foco principal de campanhas publicitárias bilionárias, sem terem investido um centavo nas obras. Pelo contrário, jogando diuturnamente contra o sucesso da competição e contra qualquer sentimento de autoestima nacional.
Para aprofundar no conhecimento sobre o evento e conhecer o que está por detrás destas belas cortinas vale a pena consultar a parte lúcida e sistematizada do nosso sentimento revolucionário:

O lugar da participação popular - Raquel Roulnik

  








quinta-feira, 12 de junho de 2014

A minha Copa do Mundo


Há 4 anos, sentado em minha sala diante da televisão e assistindo ao jogo final da última copa, Espanha x Holanda, pensava: "Uau, daqui a quatro anos isso tudo estará acontecendo em meu país, em minha cidade. E nada está diferente, nada sinaliza que estará diferente. Como se dará isso? O esporte que eu mais amo, em sua expressão máxima, a apenas 2 km da minha casa? O que estarei fazendo? Terei a chance de estar lá? Minha cidade se elevará ao patamar de 'primeiro mundo', conforme vende a mídia?"

Passados quatro anos, acho impressionante o salto de modernização conservadora dado nesse período. Por exemplo, o aparelho de usurpação do fundo público modernizou-se. A propaganda ideológica nacionalista-ufanista-alienante modernizou-se. O aparelho repressor das forças de segurança modernizaram-se. As formas de endividamentos público e privados diversificaram-se e modernizaram-se. O que se conservou:

Minha situação financeira. 
Minhas condições de trabalho. 
A situação do meu time. 
Meu grau de indignação com as injustiças.
Meu gosto por cerveja e futebol.

Todavia, também evoluiu o grau de indignação e discernimento da população diante de tamanho assombro com os gastos públicos. Entretanto, é importante destacar inicialmente que os gastos com a Copa giram em torno de 25 bilhões, mas esses gastos não fazem a menor cosquinha nos gastos com saúde, educação e segurança, dois motivos de indignação com serviços públicos apontados nas jornadas de junho/2013 e que ganham grande repercussão até hoje. E por mais que sejam volumosos e em alguns casos assombrosos, o que mais me impressiona é a enorme celeridade com que se arrebanharam as forças políticas, as dotações orçamentárias, a aprovação de legislações voltadas para o evento. Isso estabelece indubitavelmente que a prioridade é o desenvolvimento econômico, geração de receitas  e divisas tanto anunciada pelos promotores do evento, mesmo que isso aumente a desigualdade social, a concentração de renda, o fisiologismo e favoritismo político aos grupos que nunca, repito, NUNCA saíram do poder neste país, mesmo sob um governo de esquerda. A Copa 2014 traz capital político para todas as correntes e ideologias partidárias, mais ainda em ano eleitoral e ainda mais para os partidos que estão aparelhados com o poder (seja nas esferas municipal, estadual ou federal). Mas aqueles que detêm o poder econômico e a direção da sociedade civil aprenderam definitivamente que o poder econômico é o que fala mais alto na política. Ou seja, eles podem brigar, esbravejar, mas estão de barriguinha cheia.

O dito legado da copa, de fato, não se aplica aos que utilizam os serviços públicos, mas sim àqueles que estão inseridos no mercado de consumo. As novas estradas, novos aeroportos, estádios, e especialmente segurança pública são praqueles que podem pagar por eles, podem consumi-la. Isso tudo que foi estipulado como "Padrão FIFA" corresponde a um padrão de civilização burguesa europeia, uma região do capitalismo que já têm controlada muitas de suas contradições sociais desde o século passado, já tem expertise em apaziguar crises econômicas e sociais desde a Primeira Guerra Mundial. Principalmente econômica, desenvolvendo novas e modernas formas de exploração, manutenção das taxas de lucros e bem-estar social (dependendo da crise econômica, nem tanto bem-estar assim).

Agora, aqui no nosso Brasil isso não cola. Vivemos desde o nosso berço nada esplêndido espoliados por interesses internacionais aliados a oportunismo de setores da burguesia nacional subservientes e cúmplices a esses interesses. Ainda que tenhamos vivido nos últimos anos avanços inegáveis na área do desenvolvimento social em comparação com séculos de atraso, também são inegáveis o acirramento da desigualdade social e concentração de renda. São dados matemáticos: aumentou a renda do pobre, aumentou ainda mais a renda do rico. E, retomando o assunto gastos com a copa, que anteriormente chamei irrisórios diante outros setores do investimento público, há de se destacar o gasto com a dívida pública: no Orçamento Geral da União (OGU) executado em 2013 foram gastos 718 BILHÕES de reais com o pagamento de juros e amortização da dívida pública, segundo o Portal da Auditoria Cidadã.

OGU 2013. Total: R$ 1,783 trilhão. 
Fonte: Auditoria Cidadã da Dívida

Então, camaradas da FIFA, vocês que já nos impõe onde devemos gastar nosso dinheiro, utilizam sua marca para lucrar à custa do nosso trabalho e ainda querem ditar um modelo de civilização? O forte "legado" para segurança pública não me parece ter sido suficiente, ao ponto de ter visto nas ruas da cidade as forças militares ferozmente armadas. Certamente é pra controlar os "terroristas" à lá ditadura militar... (tradução: manifestantes).

É dolorido, portanto, ter que  reconhecer o sucesso do evento. Sim, o sucesso, pois o futebol cativa as emoções mais intensas as quais seus admiradores jamais se desvencilhariam em qualquer copa do mundo, ainda mais uma que ocorre no seu quintal. No fundo é triste sorrir de emoção e, ao mesmo tempo, chorar pela derrota de minha cidadania, de minha luta, de minha história como cidadão brasileiro. É contraditório que eu aumente meu endividamento pessoal para enriquecer uma entidade internacional motivado por uma oportunidade cultural ímpar na minha vida e especialmente na dos meus filhos enquanto, novamente chorando, tento sorrir e gritar Brasil. É triste ser usurpado e, ao querer mostrar minha revolta na rua, deparar com jovens fardados portando fuzis para me intimidar.


É duro assistir à Copa na TV sem a voz de Luciano do Valle. Parênteses: ele, além de ser o dono do único autógrafo que já peguei em toda minha vida,  é um dos responsáveis por eu ter desenvolvido o gosto por esportes, por todos os esportes, e por isso, certamente, influenciado em minha escolha pelo curso de Educação Física, hoje meu trabalho, e o sustento de minha família. Sem ele, o esporte espetáculo perde o brilho... Mais uma vez a cretinisse e a falta de graça hegemonizam.


Resta-me a impressão que durante todo esse tempo apenas estive recolhido ao posto de "consumidor de segunda classe", aquele que tem acesso somente à exposição superficial do que aparece na vitrine da TV. Agora com arenas modernas, confortáveis, seguras e elitizadas eu e parte do povo brasileiro podemos nos considerar "consumidores de primeira classe" do esporte. Essa é a lógica do jogo comandado pela FIFA, pelos detentores do poder econômico e por alguns governantes que elegi por seus propósitos "democráticos e populares". Isso também irá doer na hora que a lágrima rolar quando ouvir o hino nacional no estádio.

Enfim... 4 anos após aquele momento de reflexão, residindo 20 km mais distante do estádio, com muitas reflexões na cabeça devido as muitas voltas e oportunidades que a vida me deu para produzi-las vejo que pouca coisa mudou. As respostas àquelas perguntas do sofá podem ser expressas, talvez, pelo mesmo sentimento de incertezas e também pelo movimento que sou impelido a tomar dia após dia de propiciar aos meus filhos o principal sentido de legado - a missão de deixar algo concreto, material, que tenha utilidade no futuro. E o "legado" principal que extraio deste momento histórico é que existem coisas no plano da materialidade que jamais são usurpáveis: nosso patrimônio cultural; nossos sentimentos; nossa indignação e a luta decorrente dela; nossa capacidade para o trabalho; a força revolucionária que eclode diante de todos esses fatores; nossos sonhos.

Ao anúncio do primeiro apito desta copa, a lágrima que fatalmente emanará de meus olhos, torço, estará afeiçoada deste verdadeiro legado de esperança e sonhos revolucionários.

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Audiência Pública sobre atuação em educação física escolar na sexta-feira, 23/05/14


Essa é uma iniciativa concebida pelos companheiros Juarez Sampaio e Roberto Liáo Jr., ambos atualmente à frente da Coordenação de Educação Física e Desporto Escolar da SEDF, e foi materializada com o apoio da bancada do Partido dos Trabalhadores (e coligados) na Câmara Legislativa do DF. A proposta é discutir a atuação dos professores e professoras da disciplina Ed. Física na perspectiva da formação humana, o que percorre, em nosso entendimento, o enfrentamento da lógica do esporte na aula como instrumento da pirâmide esportiva (formação de atletas), da formação continuada de qualidade desses trabalhadores, da ampliação e democratização do esporte e lazer no âmbito da SEDF e, principalmente, da ampliação do controle social democrático sobre essas possibilidades da cultura corporal.

A participação de todos e todas aquelas que têm compromisso com a emancipação humana e real democratização do esporte e lazer é extremamente necessária. Essa iniciativa é uma possibilidade histórica de, em tempos de megaeventos e campanha eleitoral que se aproxima - onde muitos oportunistas abraçam esse tema na perspectiva "salvacionista" e "mistificada" dessa manifestação social - assegurarmos esses propósitos. Não na lógica de reserva de mercado, mas sim de democratização e formação humana, conforme anuncia o tema desta Audiência.

terça-feira, 1 de abril de 2014

Mais uma vitória dos trabalhadores em Educação Física contra o CREF 7

Não é pegadinha de 1º de abril. O sistema CONFEF/CREF no Distrito Federal obteve mais uma derrota em sua ofensiva contra os professores e professoras da rede pública de ensino. No último dia 18/03, oo Secretário de Educação Marcelo Aguiar homologou o parecer nº 37/2014 do Conselho e Educação do Distrito Federal que garente a esses trabalhadores a não obrigatoriedade de vinculação a este conselho profissional para exercício do seu  trabalho. 

Esta é mais uma vitória de nossa mobilização e luta contra a espoliação de nossa força de trabalho. Seguiremos não admitindo ingerências contra nós e contra os demais trabalhadores. Destarte, é fundamental destacar a atuação de valorosíssimos companheiros que encontram-se na dialética função de gerir e coordenar as ações da Educação Física escolar na SEDF. Atualmente, podemos ter a segurança que o "fogo amigo" jamais atingirá nossa classe.

Confira em 
http://www.buriti.df.gov.br/ftp/diariooficial/2014/03_Mar%C3%A7o/DODF%20N%C2%BA%2055%2018-03-2014/Se%C3%A7%C3%A3o01-%20055.pdf

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Resposta à ofensiva do Sistema CREF

É boa a resposta que a categoria dos professores e professoras da rede pública de ensino vem dando aos arbitrários conselheiros do CREF7. A culminância desse levante se dará amanhã, 11/12/13 às 19hs na sede do SINPRO-DF, onde os professores e professoras se reunirão para debater o tema, trocar experiências e elaborar estratégias para, com os instrumentos que se apresentam nesse debate ou, diga-se, peleja, se trave mais uma luta em nome da educação de qualidade e do pleno direito ao exercício de nosso trabalho. Essas estratégias passam pela utilização do arsenal jurídico, que apresenta ampla jurisprudência a nosso favor e ainda, de maneira fundamental, nosso amplo acúmulo de mobilizações, lutas e vitórias.
Há notícias que os 'capitães do mato' já estão atuando em algumas unidades escolares, situação que me pego imaginando: o fiscal chega na escola, apresenta-se à direção em posse de sua Circular 46/2013 (mal concebida, a propósito) e interrompe o trabalho do/da docente em atividades de coordenação pedagógica ou até mesmo em regência de classe (que horror!) cobrando suas credenciais. Essa situação é de extremo constrangimento e humilhação para todos, desde o porteiro, passando pelos servidores administrativos (direção incluída), corpo docente até o regente de turma. Mas espero que essa cena tenha ocorrido apenas em minha imaginação...
Na esteira das postagens que desqualificam a legitimidade social desta entidade, reproduzo a nota de convocação do SINPRO-DF para a plenária, convocando a todos e todas para o debate que tende a se realizar no mais alto nível, com a expectativa de consolidar definitivamente nosso direito ao exercício do trabalho docente sob o controle pleno da população do Distrito Federal, e não autarquias ou entidades privadas.


Sinpro convoca categoria para plenária na quarta-feira (11)

 

Uma investida hostil está sendo realizada contra as professoras e professores de educação física da Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEDF). O sistema CONFEF/CREF, representados no Distrito Federal pelo CREF 07, através de Ofício Circular n° 046/2013 endereçado aos diretores de estabelecimentos de ensino públicos e particulares, recomenda de forma arbitrária e invasiva que seja facilitado ‘o acesso dos agentes de fiscalização do CREF7/DF aos profissionais de educação física atuantes nos estabelecimentos de ensino, em atividades curriculares ou extracurriculares’.Também amparados pela Ação Civil pública n° 50758-46.2013.4.01.3400  compelem o Distrito Federal a “exigir o registro profissional no sistema CONFEF/CREFs dos professores de Educação Física aprovados em concurso público (…) para fins de nomeação/admissão, fazendo constar tal exigência em editais”. Tal medida encontra-se em caráter liminar.À categoria é chegado o momento de empenhar nossos esforços coletivos no sentido de deter essa ofensiva jurídica, tomando como ponto de partida alguns elementos que, ao que parece, são ignorados por essa instituição. Inicialmente, há diversos pareceres do Conselho Federal de Educação e de alguns Conselhos Estaduais de Educação referendando a atuação dos docentes de educação física na educação básica e superior sob a regência do sistema de leis, diretrizes e bases para a educação nacional, indistintamente se a instituição é pública ou privada. Portanto, não se confundem, segundo essas jurisdições, o exercício profissional do credenciado da atividade docente. Importante observar que essa ação liminar engendrada pelo CREF7 também não é iniciativa isolada, pois diversos CREFs (ou seja, com atuação em nível estadual) já obtiveram derrotas ao tomarem tal iniciativa.
[...]
Ao tempo de sua institucionalização através da lei 9.696 de 1998, regulamentando a profissão de educação física e criando seus conselhos reguladores (CONFEF/CREFs) passávamos em nosso país um imenso descrédito da profissão docente, um achatamento econômico dos trabalhadores em geral, e uma crise de desemprego e desesperança para aqueles que estavam por ingressar no mercado de trabalho. Logo, essa foi a saída corporativista que grupos oportunistas encontraram naquele momento para preservar seu nicho de mercado e garantir dessa forma não somente um emprego (ainda que precário) aos trabalhadores em educação física, mas principalmente a institucionalização de relações de trabalho submetidas ao controle de gestores autárquicos que, sabemos, são vinculados ao poder econômico de nossa área: academias, clubes, federações, confederações e outras entidades patronais. Seus interesses não representavam e ainda não representam os nossos: os da classe trabalhadora!
Não obstante, é preciso que tenhamos claro que nosso vínculo institucional, no caso dos professores e professoras da SEDF, é com o povo do Distrito Federal, que através de seus mecanismos democráticos regulam, controlam e avaliam o exercício de nosso trabalho. Essa instituição privada não demonstra o interesse de conhecer nossa história de lutas, desde a Associação dos Professor de Educação Física (APEF/DF) democrática na década de 1980 (contrária ao apoio golpista de outras APEFs à regulamentação da profissão), aos momentos de luta, greves, encontros, seminários e processo de formação permanente. Nossa trajetória nos conduziu a um momento histórico de grande protagonismo na formação crítica da comunidade escolar e luta pela consolidação e ampliação de nossos direitos. Hoje temos assento nas discussões dos Projeto Político-Pedagógico (PPPs) escolares e institucionais, dos Conselhos Escolares, na Gestão Democrática. Não podemos permitir que essa história seja relegada a interesses privatistas, corporativistas e sectaristas daqueles que não compreendem a real dimensão de nossa prática social, querendo submetê-la e subjulgá-la ao interesse do grande capital (que aliás, eles representam).
Destarte, o controle jurídico-normativo almejado pelo CREF sobre nosso trabalho jamais vislumbrou aquilo que nos é mais precioso: a formação de seres humanos que consigam realizar uma leitura crítica do mundo e intervir nele. Nós sabemos qual o respaldo social de nossa intervenção educativa diante de toda a comunidade escolar, principalmente de nossos alunos. 
[...] 
Ao recrutarem os ‘capitães do mato’ da educação física, essa instituição também põe em cheque, a reboque de seus interesses expansionistas, a própria dignidade de nossa classe, ao suscitar a dicotomização entre credenciados e descredenciados, ou trocando em miúdos, ‘legalizados’ e ‘ilegais’ em relação aos que trabalham na educação física escolar. Essa ofensiva jurídica só pode encontrar justificativa, portanto, no viés econômico.
É chegada a hora de nos unirmos e dar a resposta que eles necessitam! A presença de todos e todas na nossa plenária do próximo dia 11/12 às 19h na sede do SINPRO-DF ecoará à proporção de nossa mobilização e indignação. Precisamos nos situar historicamente, fortalecer nossos instrumentos de luta pressionando o Estado para que garanta nosso direito ao exercício da docência em educação física, fortalecer nossa instituição representativa (SINPRO-DF) na luta por esses direitos e estabelecer parcerias com instituições progressistas da educação física que endossem nossa luta, tendo como compreensão que nosso direito ao exercício do trabalho culmina na transformação desta em uma sociedade mais justa e humana. AVANTE!”
Leia o texto completo em

http://www.sinprodf.org.br/professores-de-educacao-fisica-convocam-categoria-para-plenaria-na-quarta-feira-11/

Referências para enriquecer o debate:
Movimento Nacional Contra a Regulamentação do Profissional de Educação Física - jurisprudências, notícias, artigos, documentos e trabalhos científicos que endossam a luta contra o Sisetma CONFEF/CREF

Educação Física Escolar Crítica - artigos e trabalhos acadêmicos que enriquecem a consciência crítica para o exercício do trabalho em Educação e Educação Física

Blog do Fernando Mascarenhas - professor Doutor na FEF/UnB, enriquece com suas análises de conjunturas muito bem referenciadas e, ao mesmo tempo, leves e acessíveis. Sobre o tema aqui em questão vale a pena conferir minha opinião sobre um de seus posts (Se conselho fosse bom...)

Blog do Pedro Tatu - coautor da chamada acima, sempre atento às questões da Educação Física no DF, no qual está invariavelmente envolvido de forma militante e pró-ativa no que concerne à formação, política e prática pedagógica do esporte e lazer. Sempre referenciado na formação humanitária e crítica.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Se conselho fosse bom...

Tomo a liberdade de reproduzir um fabuloso texto de Fernando Mascarenhas sobre a atuação do sistema CONFEF/CREF. Ele revela como funciona a ofensiva covarde e desproporcional desta entidade sobre os licenciados em Educação Física, fornece dados sobre o tamanho da fatia da economia que esses caras abocanham, revela algumas de suas incoerências, além de artimanhas e falcatruas políticas. É um texto imperdível para "celebrar" a bodas de cristal da luta pelo trabalho digno contra a exploração e precarização dos professores e professoras de Educação Física.

Mau Conselho


O conselho profissional de Educação Física, Sistema CONFEF-CREFs, criado a partir da Lei nº 9.696/98, vai debutar no próximo domingo, 1/9, completando 15 anos de existência. Há o que comemorar?

"Multiplicam, em todo Brasil, as ações na justiça federal questionando o Sistema CONFEF-CREFs. Numa visão fria, distante dos dirigentes que fazem de tudo para se perpetuarem no poder, vejo a revolta dos Profs. de Educação Física, dirigida à falta de políticas e atitudes que venham de encontro às necessidades da grande massa - os trabalhadores, professores que labutam dia após dia em jornadas de 12, 15 horas diárias"

A denúncia bem que podia ser de alguém contrário à regulamentação, mas é assinada pelo professor Ernani Contursi, um dos fundadores do Sistema e primeiro presidente do CREF 1.

Segundo o último Censo da Educação Superior divulgado, são 1.058 os cursos de Educação Física no país, dentre os quais, 663 licenciaturas e 395 bacharelados. Foram formados por estes cursos, só em 2011, um total de 22.958 licenciados e 11.499 bacharéis. Será que são muitos?

(...)

O CONFEF vem restringindo o campo de atuação de licenciados, postura questionada na justiça pelo Ministério Público Federal. Para o Conselho, a atuação em academias de ginástica, personal trainner, clubes esportivos, hospitais, spas, hotéis etc é permitida somente ao bacharel.

De todo modo, independente da judicialização em questão, afora o chão da escola, o maior mercado que tem se apresentado e atraído os egressos dos cursos de Educação Física é o setor de academias e do fitness.

Segundo a ACAD, o número de academias no Brasil passou de 4 mil em 2000 para mais de 22 mil em 2012. Hoje, osetor do fitness atende mais de seis milhões de pessoas, movimentando economicamente US$ 2,3 bilhões.

Como o mercado cresce, supostamente, crescem também as oportunidades de emprego. Há um gap muito grande nesta área, gerando grande demanda por profissionais especializados, é o que divulga o Portal da Educação Física.  

Agora, se o professor de Educação Física - sem desconsiderar a luta constante por melhores salários e condições de trabalho - está relativamente bem amparado na escola em termos de garantias trabalhistas e organização sindical,  o que se assiste no mercado do fitness é um avançado processo de estagiarização e precarização. 

(...)

ethos político do Sistema CONFEF-CREFs não combina com o ethos de um conselho profissional, o que se justifica, talvez, por sua origem e ligação com o mundo esportivo. Sim, a Educação Física engravatada está bastante identificada com a cartolagem do esporte. 

Pouco antes de sua reeleição para o quinto mandato a frente do COB, também no ano passado, Nuzman disse:

Sem querer ser arrogante nem melhor ou pior do que ninguém, é preciso lembrar que não havia e não há ninguém tão preparado para esse cargo como eu. Não concordo com o projeto apoiado pelo governo que limita o mandato dos dirigentes esportivos. Certas batalhas levam tempo e demandam experiência para ser vencidas. Não sou insubstituível, mas meu perfil é único."

Não só o presidente, mas boa parte dos conselheiros que dirigem o Sistema CONFEF-CREFs também se acham os caras, únicos, e seguem se perpetuando, sustentando-se por um complexo sistema eleitoral que inibe a criação de oposições e impede a renovação e alternância no poder, alguns deles, já ostentando o nobre título de Conselheiro Honorífico Vitalício do Sistema.

(...)

Acompanhe o texto completo no Blog do Fernando Mascarenhas, a quem sou grato pelas contribuições.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

XVIII CONBRACE - Brasília, DF


Parabenizo a comissão organizadora do evento que está realizando um excelente e dedicado trabalho. É fundamental também deixar o agradecimento ao Sindicato dos Professores do Distrito Federal pelo financiamento da inscrição de 50 companheiros e companheiras no evento, cujo resultado será uma categoria mais instrumentalizada para a construção de uma Educação Física mais crítica, liberta e humana.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Mais sobre os movimentos: outros diálogos

Compartilho aqui outros diálogos que analisam bem o movimento, e nos auxiliam a compreendê-lo de forma honesta e consistente. Vale a pena conferir.

Globo e os protestos
Vídeo sensacional. Didático e descontraído. E bastante popular também: possui mais de 1,6 milhão de acessos




Mauro Iasi
Vídeo do professor Mauro Iasi da UFRJ analisando os movimentos que estão nas ruas de forma acadêmica e de simples compreensão. 


Mais do professor Mauro Iasi no blog da Boitempo editorial

Pode ser a gota d´água: enfrentar a direita avançando o luta socialista

" Entendendo que a explosão é perfeitamente compreensível como forma de manifestação de um profundo descontentamento, sabemos que é mais do que isto. Representa, também, o esgotamento de uma forma que tem sido muito eficaz de domínio e controle político. Cultivamos um fetiche pela forma democrática como se ela em si mesmo fosse a solução enfim encontrada pela humanidade para superar um dilema histórico da ordem burguesa que a acompanha desde o nascimento e que não tem solução
 dentro da sociedade capitalista: o abismo entre sociedade e Estado (...)  

A revolta do senso comum
por Luciano Martins Costa no Observatório da Imprensa

" Há bandidos em meio às multidões, e seu número varia de cidade para cidade, mas pelo menos em São Paulo, até o vandalismo é politizado, fundamentado em leitura consistente e, segundo a conclusão do artigo, “expôs o despreparo da PM e dos governantes e acabou sendo decisivo na vitória das manifestações”. "

Blog do Juca



Vandalismo é o Cacete!
Trecho da entrevista do Boechat ao site patocomlaranja.com.br.



Aceito outras sugestões de referências.
Sobre este post, grato a Lino, Thiago e cia.

sábado, 22 de junho de 2013

Megaeventos e Manifestações

A tradução dos Megaeventos (em curso e futuros) foi realizada pelo grande "profeta" Raulzito há 30 e poucos anos atrás:

A solução pro nosso povo
Eu vou 
Negócio bom assim
Ninguém nunca viu
Tá tudo pronto aqui
É só vim pegar
A solução é alugar o Brasil!...

Nós não vamo paga nada
Nós não vamo paga nada
É tudo free!
Tá na hora agora é free
Vamo embora
Dá lugar pros gringo entrar
Esse imóvel tá prá alugar
Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah!...

Os estrangeiros
Eu sei que eles vão gostar
Tem o Atlântico
Tem vista pro mar
A Amazônia
É o jardim do quintal
E o dólar dele
Paga o nosso mingau...

Nós não vamo paga nada
Nós não vamo paga nada
É tudo free!
Tá na hora agora é free
Vamo embora
Dá lugar pros gringo entrar
Pois esse imóvel está prá alugar
Alugar! Ei!
-Grande Solução!...

Nós não vamo paga nada
Nós não vamo paga nada
Agora é free!
Tá na hora é tudo free
Vamo embora
Dá lugar pros outro entrar
Pois esse imóvel tá prá alugar
Ah! Ah! Ah! Ah!
Nós não vamo paga nada
Nós não vamo paga nada
Agora é free!
Tá na hora é tudo free
Vamo embora
Dá lugar pros gringos entrar
Pois esse imóvel
Está prá alugar...
(...)
Aluga-se. Raul Seixas e Cláudio Azevedo: Abre-te Sésamo, 1980.

Quem tiver alguma dúvida, basta consultar a  lei conhecida como Lei Geral da Copa, a qual estabelece plenos direitos à empresa organizadora da Copa das Confederações e da Copa do Mundo no que tange à exploração comercial e autoral, uso pleno e exclusivo de equipamentos públicos, de estruturas administrativas, subversão de leis vigentes, livre acesso e circulação em nosso país, alteração da organização urbana e administrativa do estado, administração pública e suas autarquias, os quais avalizam qualquer equívoco que houver em sua organização. E o "melhor": ao final do uso, tudo estará "à venda", ou quase isso, tudo será concessionado. Viva a cartilha neoliberal.

Isso é um baita motivo para haverem manifestações. E especificamente sobre a questão dos Megaeventos, existem notórias organizações que estabelecem uma frente de resistência como o Comitê Popular da CopaPortal Popular da Copa e das OlimpíadasComitê Popular Rio Copa e Olimpíadas, e outros. Mas acho necessário se apropriar do momento histórico, o qual vivemos coletiva e inalienadamente para que possamos intervir de forma construtiva como seres sociais, cidadãos e cidadãs. Sem essa de assistir de camarote.

Acredito que a maior parte daqueles que estão nas ruas gritando, levantando cartazes, tomando bala de borracha e sprayzada de pimenta na cara são estudantes. Talvez esse seja um de seus maiores papéis no cenário social: conhecer-apropriar-transformar. Na dialética do "apropriar" inclui-se uma sub-ação: manifestar. Essa é uma característica histórica dos estudantes, às vezes politicamente organizados, às vezes independentes. De fato, essa ação por muitas vezes intervêm na sociedade de forma a mobilizá-la. Temos diversos exemplos em nossa história recente, lembro-me da mais famosa aquela dos caras-pintadas, que acabou culminando no impeachment do Collor. O que se noticia na grande mídia é que este levante de manifestações não possui, aceita ou se vincula a grupos políticos organizados.

Outra notícia amplamente divulgada é que diversas e dispersas reivindicações tem sido agregadas nas manifestações: abaixo o aumento das passagens (movimento que acabou deflagrando pelo Movimento Passe Livre - MPL, a partir de São Paulo, seu grande levante), contra a PEC 37, contra a corrupção, a favor do movimento GLTB, contra o Feliciano, sei lá mais o que. Penso que, se isso constitui-se notícia verdadeira, o movimento tem a tendência de cair em um vazio conceitual e propositivo, pois temos muito a transformar na sociedade, muitas coisas estão equivocadas, e talvez apenas gritar contra elas não quer dizer que elas se transformem. Agregar diversas manifestações em uma grande rebeldia não dá elementos para que as coisas se transformem.  Vi no programa Agora é tarde do Danilo Gentili uma irônica esquete (como lhe é peculiar) sobre esse cenário: um monte de jovens reivindicando algo de forma desagregada, desorganizada, individual. Isso dá munição para à desqualificação do movimento no sentido de isso se traduza em mais um frisson da juventude.

A propósito, outra leitura evidente sobre isso, acompanhada através da mídia, é a exaltação dos "manifestantes pacíficos" e desqualificação dos "vândalos" que promovem quebra-quebra e arruaça. Entendo que esses movimentos agregam uma coalizão popular entorno da mudança política e da transformação social. A violência é uma manifestação humana, possui motivo e pode ser explicada por diversas leituras das ciências humanas. Desqualificá-la ao contrário de buscar compreendê-la é uma atitude reacionária e desonesta. E convenhamos, há muitos motivos que incentivam e explicam a revolta sob violência dessas pessoas. A usurpação do erário público para realização desses eventos é uma delas. Outra, o aumento da passagem do transporte público às vésperas de um evento internacional que limita a mobilidade urbana. Mas coalizão é assim mesmo, o todo acaba respondendo pela ação individualizada de uma parte. O partido da presidenta é um exemplo de total imersão nesta lógica.

A grande mídia, a princípio, recriminou ou pormenorizou os movimentos, que na Copa das Confederações iniciou-se em Brasília, onde houve severa repressão policial e os acontecimentos foram tratados como uma manifestação em protesto contra a realização da Copa do Mundo. Também fora noticiado amplamente na mídia local a declaração do Secretário de Segurança do DF repercutindo a ação de seus comandados como "perfeita". Entretanto, a análise dos agentes da mídia e dos comentaristas esportivos que vêem com constrangimento as cenas das manifestações, sem saber o que se passa e como comentar as cenas mostradas, acabam por desqualificar o movimento, pois o retratam como um carnaval de copa, ou um grupo de manifestantes pacíficos inseridos por alguns vândalos, que exercem o seu direito democrático de se manifestar. Só não repercutem, obviamente, que um dos motivos de suas manifestações são eles mesmo, sua conduta histórica atrelada a interesses antipopulares, e também que os trabalhadores desses veículos estão acuados e melindrosos, conforme nos mostra Glauco Cortez.

A propósito, o mesmo programa do Danilo Gentili ironiza também o comportamento inicial da mídia e a metamorfose de seu comportamento no decorrente adensamento do movimento. Seria uma tentativa de apaziguamento do seu público consumidor (os pais daqueles jovens que apareciam na televisão) ou transformação disto tudo em um carnaval que está sendo noticiado mundo afora?

Já a nossa presidenta Dilma, vaiada em Brasília juntamente com o Blatter na primeira demonstração pública de insatisfação com toda essa bandalheira, veio a público na tentativa de amansar os ânimos e demonstrar que está atenta à voz que vem das ruas, prometendo a elaboração do Plano Nacional de Mobilidade Urbana, a destinação dos recursos do petróleo para a educação e também a contratação de médicos estrangeiros para trabalharem no SUS. Ou seja, a voz das ruas ressoou nos palácios do poder de formar a ensejar mudanças. É preciso, reitero, que o movimento se organize politicamente para que de forma democrática, no espírito da verdadeira e idealizada democracia, essas reivindicações ganhem corpo e ressonância institucional. Acredito que não basta colocar toda ação política no mesmo balaio de expurgo, pois não o é. E, apesar do jogo já corrompido, nem todo político o é; esse discernimento, é também uma tarefa política.

Das lições desse importante momento histórico eu pesquei algumas. Primeiro, com esse levante ficou provado que o povo não é idiota, já está portando armas (coquetel molotov não é uma delas?) e que o bicho pode pegar ainda mais. Em segundo, a triste constatação de que nossos governos, especialmente do Partido dos Trabalhadores, continuam adotando práticas históricas da direita para justificar o injustificável: a usurpação do patrimônio público, a violência policial, a falta de diálogo com os anseios populares e com as sociedade civil organizada, digo, não aquela aparelhada. Terceiro, nossa mídia, especialmente a esportiva, manifesta-se de forma reacionária e alienada, pois seu editorial encontra-se atrelado a filosofia da décadas de 1960/70, onde predominava no esporte e na educação física a filosofia eugenista e higienista, atrelada ao ufanismo cretino do governo militarista. Um exemplo disso é a declaração do auxiliar técnico Parreira na entrevista coletiva de 21/06/2013, que está acostumado, ou diria treinado, para não misturar política e futebol. Eles construíram e hegemonizam a linha editorial do jornalismo esportivo. Apenas hegemonizam, mas não se apropriaram totalmente.

Pra finalizar, a maior lição que aprendi foi repensar meu papel de consumidor do esporte telespetáculo, conforme anunciou Betti, 1997. Esse autor denuncia como o esporte se relaciona de forma autônoma com a mídia, como se representasse uma entidade com personalidade própria, mas que de fato, é uma leitura dessa manifestação humana como produto de consumo. E altamente rentável. Por isso é deliberadamente alienada ao contexto social, pois esse possui contradições diversas que não são palatáveis ao consumidor. Talvez isso explique a intelectualmente orquestrada desqualificação e alienação das manifestações junto à mídia. E o esporte telespetáculo tem seus "ícones do mal", alguns dele já citados neste blogue. Concluo que mesmo consumindo e se apropriando, é necessário o "diálogo" com esta janela de vidro e, principalmente, a tomada de ação política individual e coletiva de forma crítica, de forma a desembocar em ações de transformação. Ou reprodução, dependendo da identidade coletiva.

E você, o que pensa?


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